Mercado da Gramicultura no Brasil

13/02/2023
Autores: Patrick Luan Ferreira dos Santos - Engenheiro Agrônomo doutor e especialista em gramados e coordenador de projetos na Safe Garden. Livia Sancinetti Carribeiro - Coordenadora Executiva Grama Legal.

Introdução

A gramicultura brasileira, pode ser considerada recente, onde os grandes avanços e inovações tecnológicas passaram a crescer no setor a cerca de 20 anos atrás. Assim, as áreas gramadas que até algum tempo eram divididas em 3 diferentes categorias (gramados paisagísticos, gramados esportivos e produção de gramas) passaram a ser classificas em 5 grandes segmentos:

São muito comuns em gramas:

  • Gramados Paisagísticos: Englobando todo o setor de paisagismo, jardinagem, parques, praças, cemitérios e arquitetura paisagística;
  • Gramados esportivos: Desde campos de alta performance, como futebol e golfe, até o futebol amador e esportes menos frequentes no Brasil como: Rugby, tênis, baseball, hipismo, turfe, bowls, polo, cricket e hockey na grama;
  • Produção de gramas: Onde ocorre o início de toda a cadeia produtiva, ou seja, é produzido um tapete que será entregue para o cliente final, através de um ciclo produtivo que são empregadas técnicas agronômicas para se ter produto de qualidade;
  • Gramas na engenharia: Esse segmento se refere as gramas utilizadas em obras, rodovias, aeroportos e ferrovias;
  • Pesquisas cientificas: Dentre esses 5 segmentos listados, o setor de pesquisa é o único que deve andar sempre lado a lado com cada um dos 4 demais tópicos, pois ele quem irá trazer inovações tecnológicas para melhorar a qualidade e exigência do mercado.

Com essa nova divisão do setor, o mercado consumidor e os profissionais que trabalham com gramicultura, passaram a ter um melhor entendimento das necessidades de cada área, onde cada uma tem a sua particularidade e manejo específico.

Dentre todos esses segmentos, o maior mercado destinado aos gramados produzidos, são as gramas na Engenharia (63%), seguido do Paisagismo (gramados paisagísticos) (31%) e do setor esportivo (6%). O que fica no setor de pesquisa é um volume muito pequeno, que acaba não sendo expressivo.

Produção de Grama X Mercado consumidor.

Figura 1: Produção de Grama X Mercado consumidor.

Crescimento no setor

Através das investigações cientificas as atualizações nas áreas de produção de grama, o setor ganhou força e fez com que novas tecnologias chegassem ao Brasil e aumentassem as conquistas dos produtores. Um dos pontos a se destacar é que muitas dessas atualizações foram graças aos esforços iniciais da UNESP (Universidade Estadual Paulista).

A UNESP é instituição no 1 em pesquisas com gramas, onde foram produzidos no total até o ano de 2022, 37 teses e dissertações sobre o tema, e vários artigos científicos publicados nas mais diversas áreas gramadas. Esses experimentos e inovações são graças a 4 grandes doutores que trabalham com pesquisas do setor, sendo eles: Prof. Dr. Roberto Lyra Villas Bôas (UNESP Botucatu), Prof. Dr. Leandro José Grava de Godoy (UNESP Registro), Prof.a Dr.a Regina Maria Monteiro de Castilho (UNESP Ilha Solteira) e Prof.a Dr.a Kathia Lopes Pivetta (UNESP Jaboticabal).

Dois desses pesquisadores idealizaram a criação do SIGRA – Simpósio Brasileiro Sobre Gramados, que se tornou o maior evento sobre Gramados do Brasil. Iniciado em 2003 o SIGRA teve sua primeira edição com grande destaque no mercado, e hoje quase 20 anos depois, graças a esse evento, existem informações, inovações e tecnologias para o setor, sendo lançados no total 6 livros sobre o tema (5 edições do tópicos atuais sobre gramados e 1 livro de nutrição, adubação e calagem para produção de gramas), 3 livros textos das palestras dos 3 primeiros SIGRAs e mais 5 anais de congressos de trabalhos científicos realizados e que foram publicados no simpósio. Todos os trabalhos. Livros textos e produções realizadas pelo SIGRA podem ser consultadas juntos ao site do infograma.com.br, o maior portal sobre gramados do Brasil.

No ano de 2010, iniciou-se o projeto “grama Legal” quando um grupo de gramicultores se mobilizou por uma maior profissionalização da gramicultura brasileira, buscando amadurecimento, regularização e formalização do setor, que em alguns anos depois se tornou a Associação Nacional Grama Legal, hoje é a maior associação de gramicultura brasileira, contando atualmente com 28 associados, que representam atualmente 7 mil hectares em áreas de produção.

EM 2020 foi lançada a primeira edição especial em uma revista cientifica brasileira (Ornamental Horticulture) totalmente dedicada a divulgação de artigos científicos voltados para Gramados, onde foram publicados 15 trabalhos de diferentes pesquisadores de todo o Brasil.

E finalmente em 2022, foram realizados dois grandes eventos do setor, o primeiro foi por iniciativa da coordenadora executiva da Associação Nacional Grama Legal (Lívia Sancinetti Carribeiro) que idealizou e propos o 1º Encontro Nacional de Gramicultura na cidade de Tatuí-SP, que trouxe o pesquisador Prof. Dr. Kevin Kenworhty, especialista em Zoysias e criador de duas cultivares de grama: CitraZoy e CitraBlue. Ainda, grandes outras palestras e inovações para o setor foram apresentadas, trazendo grandes conquistas para o setor, e que reuniu vários profissionais de todo o Brasil. E em outubro de 2022, após 7 anos de espera, foi realizado o VIII SIGRA, que trouxe o tema: “o futuro da grama pós-pandemia” que levou grandes nomes nacionais e internacionais a partir de demandas existentes em cada setor. Com isso, chegaram inovações para os diferentes segmentos, palestras técnicas e máquinas e equipamentos para uso em áreas gramadas e demonstração de novas variedades para o Brasil.

Mercado atual de gramas no Brasil

Durante a última década, a produção nacional de gramas apresentou um crescimento expressivo, sendo este impulsionado pela maior exigência do mercado consumidor, grandes eventos esportivos realizados nos últimos anos no Brasil (copa do mundo FIFA 2014 e Olimpíadas 2016), aumento de áreas gramadas em obras de engenharia (construção civil, rodovias, aeroportos e ferrovias) e paisagismo. Aliada ao aumento da demanda pelo mercado consumidor ocorreu a expansão de áreas de produção para regiões do país até então pouco exploradas. Assim, para esse ano de 2022, a partir de um levantamento realizado juntamente com a Associação Grama Legal, e os dados de registro no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), estima-se que a área atual de produção de gramas está estimada de 30 mil hectares no país.

A Figura 2 apresenta o crescimento da produção no país a partir do ano de 2010, sendo nesse ano a área total de 16,5 mil hectares no levantamento feito junto com o Zanon (2010), já em 2012 a área foi estimada em 22 mil hectares (Villas Bôas et al., 2020), em 2015 os produtores representavam 24 mil há de produção, e em 2020, o levamento realizado pela Associação Nacional Grama Legal foi de aproximadamente 25 mil hectares (Villas Bôas et al., 2020).

Produção de gramas no Brasil

Figura 2: Aumento da área de produção de gramas no Brasil ao longo dos anos de 2010-2022.

Dentre os aproximados 30 mil hectares produzidos no Brasil atualmente, os dados do MAPA, colocam que existem atualmente 401 unidades de produção no país. A nível de comparação em 2021, eram 320 unidades. Essas unidades estão distribuídas em 55,25% na região sudeste, 16,05% na região Sul, 10,50% região norte, 8,02% nordeste e 10,18% no centro-oeste (Figura 3).

Mapa da representatividade da porcentagem das unidades de produção de gramas no Brasil

Figura 3: Mapa da representatividade da porcentagem das unidades de produção de gramas no Brasil. Fonte: MAPA (Renasem)

Com relação as espécies de gramas produzidas no País, foi realizado um levantamento mais detalhado junto ao ministério da agricultura e a Associação Grama Legal. Inicialmente foram identificados quais são as espécies registradas no Brasil, onde o levantamento realizado junto ao sistema RNC (Registro Nacional de cultivares), foram identificadas no total 14 diferentes espécies de gramados, sendo que são totalizados 62 diferentes cultivares registrados. Contudo, algumas dessas gramas não são produzidas, como as espécies de estação fria (Lollium perene L. e Poa trivialis L.).

Tabela 1:

Espécies de gramas registradas no Brasil e número de variedades de cada espécie, junto ao site do RNC.

Espécie Registros
Zoysia japonica Steud 5
Zoysia matrella(L.) Merr. 2
Zoysia japonica Steud. x Zoysia tenuifolia Willd. ex Thiele 1
Axonopus affinis Chase = A. fissifolius (Raddi) Kuhlm 8
Axonopus parodii (Valls, ined.) 1
Paspalum notatum Flüggé 2
Paspalum notatum Fluggé var. notatum = P. notatum var. latiflorum Döll 4
Paspalum lepton Schult. 1
Paspaulum vaginatum Sw. 3
Stenotaphrum secundatum (Walter) Kuntze; 2
Cynodon dactylon (L.) Pers. 21
Cynodon dactylon x C. traansvaleensis 3
Lollium perene L. 6
Poa trivialis L. 3
14 espécies 62

Fonte: Registro Nacional de Cultivares (RNC).

Contudo, apesar de terem 14 espécies e 62 variedades registradas junto ao MAPA, nem todas são cultivadas com a mesma proporção, havendo diferença para cada espécie. No atual levamento realizado nesse ano de 2022 junto aos dados do MAPA (Renasem) e com a Associação Nacional Grama Legal, foram identificados que 79,03% das gramas cultivadas são Zoysias (impulsionadas principalmente pela grama Esmeralda, a mais cultivada no país), seguida da São Carlos (15,21%), os mais diferentes tipos de bermudas (5,3%), Santo Agostinho (0,27%) e apenas 0,19% são Paspalum (Figura 4).

Porcentagem das gramas produzidas no país

Figura 4: Porcentagem das gramas produzidas no país.

A grama Esmeralda (Zoysia japonica), representa a maior porcentagem de produção e comercialização no país, estando presente em todas as regiões do Brasil, devido a sua alta adaptabilidade. Ela é de origem asiática e apresenta crescimento rizomatoso e estolonífero, ou seja, forma um perfeito tapete quando ceifada devido ao entrelaçamento dessas duas estruturas. Isso a torna resistente ao pisoteio e trás uma ampla variedade de usos, como jardins residenciais, campos esportivos (como futebol amador e fairways de golfe), margens de rodovias, aeroportos, praças, parques e cemitérios.

As gramas Bermudas (Cynodon spp.) são altamente indicadas para campos esportivos de alta performance, pois algumas características as tornam essenciais para uso nesses locais. Primeiramente, por apresentarem o mesmo tipo de crescimento que a Esmeralda, faz com que elas sejam resistentes ao pisoteio e favorece seu uso para o setor esportivo, ainda suas folhas são finais e maciais, o que melhora a jogabilidade da partida, e amortecem a queda dos jogadores caso ocorra alguma queda durante o jogo. Essas espécies, são altamente agressivas, e assim se recuperam rápido após um dano ocasionado pela chuteira ou taco de golfe dos jogadores. Contudo, são extremamente exigentes em água e adubação, ou seja, manutenção constante, e assim acabam não sendo indicadas para uso no paisagismo, rodovias, etc.

De todas as espécies do gênero, as mais utilizadas em campos de futebol são as gramas “Celebration” (C. dactylon) e “Tifway 419” (C. dactylon x C. Transvaalensis), e elas fazem parte das principais arenas esportivas do Brasil. Ainda existem as chamadas espécies dwarf ou ultradwarf que toleram alturas de corte muito baixas de até 2 mm, e são utilizadas em greens de golfe (área mais nobre do campo, onde fica o buraco para tacada final), como a tifeagle, tifgreen, tifdwarf e a Sunday (todas híbridos de C. dactylon x C. Transvaalensis).

A grama São Carlos, Curitibana ou Sempre-verde (Axonopus spp.) é uma das poucas gramas nativas disponíveis no mercado, ela é a espécie mais produzida na região sul do país, e se destaca por ser mais tolerante a climas amenos e manter o verde por mais tempo. De folhas brilhantes a espécie registrada junto ao ministério da agricultura é a Axonopus fissifolius, contudo no Brasil existem mais de 70 espécies do gênero, com diferenças muitas vezes imperceptíveis de uma para outra. Ela apresenta crescimento apenas estolonífero, ou seja, não tolera o pisoteio constante, mesmo assim, diferente de que muita gente pensa e o que se observa em placas escritas em parques, praças e jardins, a grama apresenta estruturas para ser pisada, ou seja, “pise na grama”, o que não pode ocorrer é aquele famoso “caminho constante” em um mesmo local que acaba marcando o gramado e ele morre, e sempre o solo fica exposto.

A grama Santo Agostinho (Stenotaphrum secundatum) é de origem desconhecida, alguns a chamam de grama inglesa por ter sido muito utilizada na Inglaterra no século passado. Essa espécie é a mais utilizada atualmente no estado da Florida, nos EUA, contudo, no Brasil seu uso se limita mais a regiões litorâneas, devido a sua boa tolerância a salinidade. Assim como a São Carlos, a grama Santo Agostinho, apresenta crescimento apenas estolonífero, ou seja, não tolera pisoteio constante. Seu uso no Brasil tem diminuído com o passar dos anos.

As gramas do gênero Paspalum são espécies nativas que onde a mais conhecida é a grama Batatais, gramão ou grama mato grosso (P. notatum), que fez parte dos gramados brasileiros por muitas décadas, sendo inclusiva a grama oficial de estádios nos anos 50 e 60. Contudo, no Brasil, são pouquíssimos produtores registrados que produzem essa espécie, sendo a maioria proveniente do extrativismo. Outras variedades de Paspalum que também chegaram no Brasil nos últimos tempos, são as chamadas seashore (P. vaginatum) que são altamente tolerantes a salinidade e apresentam características semelhantes as gramas bermudas, por isso, seu uso é mais indicado para campos esportivos de alta performance como a Seadwarf. Inclusive a variedade “Platinum” dessa espécie é a grama oficial da copa do mundo FIFA do Qatar em 2022, por poder ser irrigada com água do mar tratada.

Novas espécies de gramas chegaram ao mercado Brasileiro na última década

Durante os últimos 10 anos, várias espécies de gramas foram trazidas para o Brasil, principalmente devido ao mercado consumidor que passou a buscar espécies novas a fim de substituir gramas já existentes.

Assim, a partir da década de 2010 algumas novas gramas passaram a ser comercializadas no país. A primeira cultivar de Zoysia matrella (L.) Merr. foi registrada no Brasil em 2014 com o nome de “Zeon®. Foi trazida para o país, e teve grande destaque por ser utilizada no campo olímpico de golfe, no Rio de Janeiro, formando um gramado mais denso, com folhas mais finas que a Esmeralda, podendo ser utilizada também em gramados paisagísticos.

A Zoysia japonica Steud. x Zoysia tenuifolia Willd. ex Thiele (Zoysia pacífica) foi introduzida no Brasil em 2016, recebendo o nome comercial de GeoZoysia e faz parte do grupo chamado de mini zoysia. Possui as folhas mais finas que a Zeon, formando um gramado muito denso, mas não formando tufos. Pode ser utilizada em gramados paisagísticos e esportivos, indicada principalmente para greens de golfe, devido a sua baixa altura de corte que suporta.

Em 2018 passou a ser comercializado a grama bermuda (Cynodon dactylon) indicada para o paisagismo a Barazur ou comercialmente conhecida como Discovery. Essa espécie apresenta lento crescimento vertical e apresenta uma coloração diferenciada (verde-azulado).

Para 2022 duas novas espécies foram lançadas, onde em agosto de 2022, chegou ao mercado a última espécie de Zoysia lançada no Brasil, a grama Innovation. Indicada para projetos paisagísticos, margens de rodovias e campos esportivos, sendo tolerante a seca e consegue manter o verde em épocas mais secas.

Já a última espécie que chegou ao mercado brasileiro, foi o híbrido de Cynodon dactylon (L.) Pers. x Cynodon traansvaleensis a grama “latitude 36”. Com foco no mercado esportivo, essa espécie mantém por mais tempo o verde durante o inverno. Sendo altamente indicada para áreas de clima sub-tropical (ou transição).

Ainda, durante a última década a EMBRAPA passou a desenvolver gramados nativos baseado em acessos do banco de germoplasma da EMBRAPA Pecuária Sudeste, onde foram selecionados alguns acessos para validação por alguns produtores, onde cultivares de Paspalum notatum var. notatum Flüggé, passaram a ser cultivados, sendo eles: Tuim, Arauaí, Tiriba e Maritaca. Ainda, foi selecionada a cultivar de Paspalum lepton Schult (Chauá), e por fim a grama Curica (Axonopus parodii) também passou a ser selecionada para uso como gramados, e sendo validada por alguns produtores.

No decorrer desses 20 anos a Gramicultura tem se tornado um segmento da agricultura cada vez mais promissor, onde grande investimentos tem sido feito por parte de produtores através da aquisição de novas variedades e tecnológicas para facilitar a produção no campo.

Desta forma, cabe a nós da Grama Legal, garantir o apoio técnico e legal ao Associados e, aos consumidores, a orientação sobre a compra e combate aos ilegais.

Fonte: Associação Nacional Grama Legal / Safe Garden.