Calcário e produção de gramicultura
Aplicação do calcário na produção de grama
Calcário é um nome dado, ao produto final da moagem de rochas sedimentares ricas em cálcio e magnésio formadas em antigos mares, por ação de microoganismos. Na agricultura moderna a aplicação de calcário para correção de acidez de solo é uma técnica muito difundida e recomendada. Sendo um dos pilares para a obtenção das maiores produtividades agrícolas.
No sistema de produção de gramas, assim como no plantio direto o “preparo” e a correção do solo ocorrem somente na camada superficial, marcando então o início do novo ciclo de cultivo visando a produção de tapetes. Ou seja, grama é produto de rebrota. A técnica que vem sendo adotada a, aproximadamente, 50 anos nas áreas de produção de grama do Brasil. Assim, é muito comum encontrar viveiros de mudas onde a mais de 20 anos não se realiza o preparo convencional do solo para o início do novo ciclo de cultivo.
Uma possível hipótese é a de, ao realizar o preparo do solo após a colheita dos tapetes para comercialização, o produtor estaria “removendo” da área as estruturas de propagação responsáveis por dar origem ao novo gramado após a colheita das mudas, pois com o preparo do solo essas estruturas seriam depositadas em camadas muito profundas, dificultando a brotação subsequente dos rizomas e estolões. Desta maneira o produtor precisaria dispor constantemente de parte dos seus tapetes colhidos para replantar a área ao final dos 12 meses de produção. Isso tornaria o cultivo da grama bastante oneroso e pouco viável, principalmente para pequenos produtores.
Na produção de grama o preparo do solo só ocorre no plantio das primeiras mudas (início da produção), ou quando o produtor considerar necessária a renovação do viveiro após anos de cultivo, caso contrário ele acontecerá somente de maneira superficial com o auxílio de fofeador, aerador e/ou estrelinha, seguido da aplicação de calcário para corrigir a acidez do solo.
Portanto, o “preparo do solo”, a correção da acidez e adubação nos anos subsequentes ao 1° plantio acontecerão somente de forma superficial, havendo pouca ou nenhuma incorporação dos corretivos e fertilizantes.
Mas o calcário aplicado consegue corrigir a acidez do solo e permitir o bom desenvolvimento das mudas de grama?
A resposta é, Sim!
A calagem tem como principais objetivos reduzir a atividade do alumínio (Al), elevar o pH, aumentar o teor de Ca e Mg e a disponibilidade de nutrientes no solo. Assim, o gramado consegue se desenvolver melhor, apresentando maior densidade (gramado de verde intenso e sem falhas), sistema radicular e melhoria das condições para microrganismos decompositores.
Embora o calcário apresente baixa solubilidade e mobilidade do solo (podendo demorar entre dois e quatro anos para alcançar a profundidade de 10 cm), a pequena incorporação decorrente do processo de destorroamento da camada superficial com auxílio do conjunto de pneus, posteriormente ao preparo (descompactação) com aerador, escarificador e/ou estrelinha. Tal tecnica possibilita a correção da acidez e o estabelecimento de um gramado saudável. Porém essa condição favorável somente acontece porque o desenvolvimento das plantas de grama dá-se na camada superficial do solo (0 - 5 cm), e portanto, as mesmas acabam dispondo da melhor condição química e de fertilidade possível.
Qual a profundidade de amostragem de solo?
As amostras de solo devem ser coletadas da camada onde ocorre a formação dos tapetes de grama ... de 0-5 cm e de 5-10 cm e até 10-20 cm. Isso possibilitará o melhor entendimento da fertilidade e assertividade da dose de corretivo a ser aplicada.
Qual quantidade de calcário devo utilizar para corrigir a acidez do solo?
Cada espécie de grama tem suas particularidades com relação a tolerância a acidez do solo, contudo de forma geral, os gramados de estação quente se desenvolvem melhor entre pH de 6,0 e 7,0. Faixa essa onde ocorre maior disponibilidade de nutrientes essenciais para o crescimento das gramas.
Recomenda-se também, o uso de calcário dolomítico ( >12% Mg), para que assim, seja disponibilizado Mg e Ca em teores adequados. A dose de calcário utilizada, visando a correção da acidez do solo, deve ser calculada com base nos resultados da análise química do solo e conforme as recomendações estabelecidas no Boletim técnico 100, recentemente publicado em 2022 pelo IAC – Instituto Agronômico do Campinas.
Saturação por bases do solo
Espécie de Grama | Formação | Manutenção |
---|---|---|
Batatais | 50 | 40 |
São Carlos | 50 | 40 |
Santo Agostinho | 60 | 50 |
Esmeralda | 60 | 50 |
Bermuda Híbrida | 70 | 60 |
Fonte: Boletim Técnico 100 – IAC (2022).
Embora nas áreas de produção de grama, a aplicação de calcário seja uma prática muito comum, verifica-se que muitas vezes ela é adotada sem qualquer critério. Isso ocorre porque existe uma dificuldade por parte do produtor em interpretar os resultados da análise de solo. Outro fator é que o descomprometimento do produtor em coletar amostras ao final do ciclo (antes da colheita dos tapetes). Desta forma muitos produtores têm optado por aplicar de 1,0 a 1,5 toneladas todo início de ciclo de cultivo da grama independente da necessidade de aplicação. Contudo, não se recomenda aplicações de quantidades superiores a 2,5 t ha-1 em área de produção, sendo para quantidades maiores que essa, recomendado o parcelamento em intervalos de 3 a 6 meses em doses de 1,25 a 2,5 t ha-1.
Lembrando que sempre após a operação de calagem é necessário realizar a irrigação do local para melhor incorporação do calcário e haver reação no solo. Contudo, quando o calcário é aplicado sobre a superfície da área gramada, acaba demorando muito para que esse corrija as camadas do solo, podendo levar anos para sua eficiência ser atingida. Assim, ele deve ser incorporado ao solo, onde sua reação será mais eficiente quanto maior seu contato com o solo.
É importante ressaltar também que aplicações desnecessárias de calcário podem implicar diretamente no custo de produção e na disponibilidade de nutrientes, uma vez que o excesso de alcalinização do solo pode reduzir a disponibilidade de alguns nutrientes essenciais para as plantas.