Tolerância de gramados à Compactação do solo
“A compactação é o problema mais importante em gramados” e pode proporcionar um declínio geral no crescimento, vigor, qualidade e persistência. No entanto, em muitos casos, a não é reconhecida como a causa da deterioração do gramado, por não reduzir, diretamente, a atividade da planta. Em vez disso, a compactação do solo atua afetando outros fatores que influenciam no crescimento como a difusão do oxigênio no solo, temperatura do solo, resistência à penetração e umidade do solo. Assim, a compactação tem sido chamada de estresse escondido.
Dentre as distintas causas que podem levar a degradação dos solos, a compactação é um dos fatores que caracterizam o mau uso do mesmo. A compactação é um processo de compressão do solo por ação de uma força externa (pisoteio por pessoas, máquinas pesadas e veículos). Ela proporciona a diminuição dos espaços vazios entre as partículas sólidas que constituem o solo (areia, silte, argila e matéria orgânica) e por onde circulam o ar e a água. Trata-se, portanto, de uma importante forma de degradação do solo.
Fatores como: (a) Textura, (b) umidade, (c) intensidade de pressão aplicada, (d) frequência com que a força é aplicada e (e) quantidade de vegetação sobre a superfície do solo estão estão diretamento envolvidos no processo de compactação do solo.
1) Textura (quantidade de areia, silte e argila):
Dentre os fatores, a textura é aquela que exerce maior influência sobre a vulnerabilidade o solo ao processo de compactação. Solos argilosos são mais susceptiveis à compactação do que solos arenosos e, portanto, podem proporcionar mais prejuizos a qualidade do gramado se submetido à compactação.
2) Conteúdo de água no solo:
A quantidade de água presente nos poros do solo no momento em que este sofre a ação de uma força externa é outro fator muito importante para determinação quanto um solo se compactará. Cada partícula que compõe o solo é envolvida por uma película de água. Essa película atua como um lubrificante que auxiliam deslizamento e aproximação das partículas para um estado denso e impermeável. Nessas condições recomenda-se que, um solo este esteja mínimamente saturado quando submetido ao tráfego.
3) Intensidade e frequência de pressão aplicada sobre o solo:
Corresponde ao peso de um pedestre ou veículo em relação a área que ocupa na superfície do solo. Quanto maior a superfície de contato, melhor a distribuição da pressão, consequentemente menor a compactação. O mesmo vale para a frequência – quanto menor a frequência de uma pessoa ou veículo sobre um gramado, menor a compactação do mesmo.
4) Matéria orgânica:
Outro fator é a presença da “matéria orgânica sobre o solo” (vegetação) e no solo. A vegetação atua como um colchão, protegendo a superfície do solo dos efeitos do tráfego. A “matéria orgânica no solo” atua como uma barreira à aproximação das partículas minerais, protegendo-o contra os efeitos da compactação. Adicionalmente, a fração orgânica favorece o crescimento e desenvolvimento do gramado uma vez que melhora a estrutura, retenção e movimento da água no solo, e contribui com o fornecimento de nutrientes.
Problemas com a compactação em gramados ornamentais e esportivos
Em áreas gramadas, a compactação ocorre preferencialmente na camada situada entre 5 a 8 cm de profundidade, coincidindo com a zona onde ocorre a maior porcentagem do sistema radicular da grama e é decorrente, principalmente, do tráfego de pessoas e equipamentos utilizados para a manutenção dessas grandes áreas. Nelas a compactação interfere diretamente sobre a aeração do solo, respiração das raízes disponibilidade de água ao gramado estabelecido, temperatura do solo e consequentemente, no seu desenvolvimento e aparência do mesmo.
Em gramados esportivos, a compactação ocorre na camada superficial, e é decorrente do tráfego de calçados com grampos e equipamentos de manutenção, que proporcionam principalmente a vedação da parte superior do solo. O tráfego em campos esportivos pode causar o adensamento da areia da zona média ocupada pelas raízes, através da compactação do tapete de grama, do tatch (aparas de grama) e matéria orgânica ou do próprio solo, quando o plantio da grama não ocorreu sobre o topsoil (mistura de areia e matéria orgânica). A compactação em campos esportivos não ocorre de maneira uniforme. Os padrões de tráfego de cada esporte são indicadores de áreas que precisam de maior atenção quanto à descompactação e assim é possível garantir o menor nível possível de injurias ao gramado e atletas que dele usufruem. Em estádios de futebol, a área do gol é aquela que requer maiores cuidados com relação à compactação.
De maneira geral, a saúde, a jogabilidade, a estética e durabilidade de um gramado utilizado em paisagismo ou em um campo esportivo depende do controle da compactação. Medidas como, o controle do tráfego desnecessário, acúmulo de biomassa verde e crescimento de rizomas e estolões da grama e a aeração através de perfuração do solo com o auxilio de equipamentos adequados, são alternativas bastante viáveis para mitigar do problema.
Compactação em áreas de produção de grama
Não diferindo do que se observa em gramados ornamentais e esportivos, áreas de produção comercial de grama também apresentam sérios ou problemas ainda decorrentes da compactação solo.
De acordo com Santos et al. (2010) e Carribeiro (2014) nessas áreas a compactação do solo ocorre, principalmente, na camada superficial do mesmo (0-15 cm) e estão atribuídas principalmente à operação de colheita da grama. Entretanto, diferentemente dos primeiros a compactação na produção de grama é um dos manejos necessários para a coleta de tapetes e decorrente do número de passadas de rolo compactador, peso e tamanho do rolo, da textura e do teor de umidade do solo no momento da colheita dos tapetes. Nas áreas de cultivo de grama o rolo compactador o elemento que possibilita a colheita, sendo responsável pela agregação do solo às raízes, rizomas e estolões da grama e o que dará resistência aos tapetes.
Contrapondo todo efeito proporcionado pelo rolo sobre o solo, nos campos de produção de grama a matéria orgânica, decorrente principalmente do crescimento das raízes, é o elemento que contribui com a minimização do processo de compactação, uma vez que grande parte do material vegetal da cultura é retirado da superfície do solo no processo de colheita da grama. O extenso e fibroso sistema radicular da grama contibui para o teor de matéria orgânica do solo através da decomposição contínua das raízes mais velhas. Adicionalmente, o crescimento das raízes, por sua vez, também favorece a formação de poros estáveis pela decomposição por microrganismos que geram materiais que atuam como cimentantes das paredes dos poros, proporcionam maior durabilidade aos mesmos, diferindo daqueles formados por implementos agrícolas. Como medidas para minimizar os efeitos da compactação pela ação do rolo no momento da colheita, toda área recém colhida passa por um processo de descompactação através de equipamentos específicos que quebram a camada superficial do solo. Diferentemente do que se observa para outras culturas, em áreas de produção de grama não ocorre o revolvimento da camada superficial do solo, somente o rompimento da camada situada logo abaixo do tapete colhido. O preparo do solo é realizado dessa maneira, pois todo material de propagação (rizomas e estolões) que dará origem ao novo ciclo da cultura encontra-se situado logo abaixo do tapete colhido. Em áreas de produção de grama, não ocorre um novo plantio após a colheita dos tapetes, mais sim a rebrota de rizomas e estolões que permaneceram na área.
Efeitos da compactação sobre o solo e planta:
1) Restrição no nível de oxigênio às raízes
Gramados e organismos que vivem no solo necessitam do oxigênio presente no poros do solo para manutenção dos seus processos vitais. Assim, o componente ar é um importante fator para o crescimento do gramado. As raízes das plantas necessitam do oxigênio presente nos poros do solo, mas também liberam gás carbônico (CO2) durante a respiração. Portanto, solos precisam apresentar espaços suficientes para que esses gases entrem e saiam do mesmo em proporções adequadas para garantir a respiração das raízes. O acúmulo de CO2 e gases tóxicos resultantes da respiração das raízes e microorganismos em solos compactados podem acarretar na intoxicação da grama e dos organismos. Solos compactados apresentam uma baixa concentração de O2 e alta concentração de CO2, diferindo da atmosfera acima do solo. Essa condição de limitação da aeração do solo pode levar ao enraizamento superficial e menor vigor do gramado.
2) Infiltração e movimento da água no solo:
A redução do tamanho dos poros e número de poros do solo decorrentes da compactação proporciona o aumento do (a) escoamento superficial da água sobre o gramado, resultando em processos erosivos; (b) redução da velocidade infiltração e caminhamento da água pelo perfil do solo ate os lençóis freáticos; (c) condição temporária de saturação dos poros do solo reduzindo a quantidade de oxigênio para as raízes. Como consequência dos fatores relacionados acima, há o desenvolvimento de raízes rasas (superficiais) e grossas, perda da cor verde da grama (grama sofre um amarelamento geral) devido à indisponibilidade de nitrogênio na forma adequada, entre outros elementos.
3) Temperatura do solo
O aumento da temperatura do solo está diretamente atribuído a deterioração da parte aérea do gramado, como consequência do adensamento do solo. Isso ocorre porque há (a) redução na absorção de água e nutrientes pelas raízes; (b) menor formação de rizomas, estolões e consequentemente da parte aérea da planta de grama. Como resultado desse mau desenvolvimento do gramado há aumento na absorção de radiação solar pelo solo e elevação da sua temperatura.
Independente da distribuição espacial no perfil do solo, a compactação cria um ambiente desfavorável para o crescimento das plantas.
Medidas paliativas para reduzir os efeitos da compactação do solo:
- Reduzir o controle do tráfego sobre o gramado posteriormente a irrigação;
- Evitar o tráfego excessivo e desnecessário de pessoas e equipamentos pesados sobre o gramado;
- Realizar um bom programa de adubação e irrigação que estimulem o desenvolvimento da parte aérea da grama, responsável por proteger a superfície do solo contra os efeitos do tráfego, e de rizomas, estolões e raízes por serem consideradas importantes estruturas descompactadoras naturais que se desenvolvem dentro do solo;
- Adotar prática de descompactação do solo mediante o uso de implementos especificos (pinos ocos, pinos maciços, etc) e/ou equipamentos simples (ancinhos, foices, pás retas) de descompactação quando o gramado apresentar características evidentes de deterioração.