Adubação nitrogenada em gramados

03/06/2021
Autores: Patrick Luan Ferreira dos Santos* - Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia (Sistemas de produção) e Doutorando em Agronomia (Horticultura), UNESP, Botucatu-SP. / Matheus Vinícios Leal do Nascimento* - Engenheiro Agrônomo. / João Victor Costa* - Engenheiro Agrícola. *Turfgrass Team

O manejo adequado baseado na adubação nitrogenada é essencial para manter a qualidade estética da grama

A exigência nutricional das gramas, pode variar conforme a espécie e as cultivares. Contudo, gramados necessitam de todos os macro e micronutrientes, em quantidades adequadas para propiciarem melhor qualidade estética (verde intenso e boa densidade), crescimento, desenvolvimento e recuperação de injurias, sendo o nitrogênio (N), o nutriente exigido em maiores quantidades pelas gramas.

Esse nutriente influencia em diversas características relevantes no manejo de gramados, onde, por ser um elemento estrutural, faz parte de várias moléculas nas plantas, estando presente em altas concentrações (variando 2 a 5% nas folhas). Ele é o responsável pela cor, vigor, recuperação de injurias e crescimento dos gramados. Neste sentido, o manejo da adubação nitrogenada de modo correto propicia uma planta de qualidade, com sistema radicular profundo e vigoroso, e faz com que a eficiência na absorção de água e nutrientes seja favorecida. Contudo, é essencial aplicações regulares e em doses adequadas, pois a quantidade de N disponível na maioria dos solos é insuficiente para atender à exigência do gramado.

Baixas doses de N prejudicam a taxa de cobertura do solo pela grama, ou seja, há limitação no crescimento (redução no desenvolvimento da parte aérea), além da perda da cor verde da grama (amarelecimento geral). Em excesso, o N pode tornar a grama menos resistente e mais susceptível ao ataque de patógenos, principalmente, doenças fúngicas e pragas, além da lixiviação do nitrato para camadas mais profundas do solo, podendo chegar ao lençol freático, causando a contaminação da água. Somado a isso, doses elevadas de N resultam em crescimento vegetativo mais rápido, aumentando a altura da grama e o número de cortes e, assim, o custo de manutenção do gramado.

Sendo assim, o fertilizante a ser utilizado deve ser estabelecido em função do objetivo e uso de cada gramado. Por exemplo, em gramados esportivos, é essencial a recuperação rápida do dano ocasionado pelo jogo, e pelo tipo de grama que é usada (bermudas) acaba tendo um manejo mais intenso de adubações. Já o setor ornamental, onde o principal objetivo é o aspecto estético, as adubações ocorrem com menor frequência e intensidade. Dessa forma, doses de N devem ser ajustadas de acordo com o seu uso, necessidade de recuperação, espécie, qualidade esperada, remoção ou não das aparas, frequência de irrigação, tipo de solo e clima.

Contudo, é importante destacar que não existem recomendações oficiais de adubação para implantação e manutenção de gramados em condições brasileiras. Aliado a isso, no Brasil, os profissionais ligados às áreas das ciências agrárias, dispõem de poucas informações de sua formação (cursos de graduação em agronomia ou especializações) de disciplinas que enfoquem o manejo e os tratos culturais específicos para gramados, dificultando a recomendação e, consequentemente, o manejo correto dos fertilizantes.

Antes de qualquer coisa, é importante colocar que a eficiência do aproveitamento do N pelas plantas pode ser diferente entre as fontes utilizadas, uma vez que os fertilizantes nitrogenados são apresentados, em geral, contendo três formas básicas de nitrogênio: amida (ureia), amônio (Sulfato de amônio) e nitrato (nitrato de potássio). Ou uma quarta forma “mesclada” de duas formas básicas: nítrico-amoniacal (nitrato de amônio/nitrocálcio).

A amida é forma básica do fertilizante nitrogenado mais utilizado na agricultura. Este é um adubo mineral sintetizado industrialmente, contudo, existem grandes perdas de nitrogênio por volatilização quando se aplica a ureia em cobertura. Estas perdas estão compreendidas entre 25-30%, podendo chegar a 70% dependendo do solo e da forma de aplicação. Entretanto, devido a sua elevada concentração de N, a ureia é, o fertilizante que apresenta o menor custo por Kg de nitrogênio do mercado. Ainda, a ureia difere das demais fontes, por ser absorvida pelas plantas somente após ser hidrolisada no solo e transformada em uma forma amoniacal (NH4+) e depois nítrica (NH3-).

O amônio é forma básica de nitrogênio de diversos fertilizantes, podendo ter como exemplo desse grupo, o sulfato de amônio. Esse fertilizante perde pouco N por volatilização, especialmente se não for aplicado sobre resíduos culturais. Por outro lado, a aplicação do sulfato de amônio acaba por disponibilizar S, que em grandes quantidades no solo pode ocasionar a acidificação, devendo sempre monitorar o pH do solo para correção com a pratica da calagem.

Com relação a forma nítrica (nitrato potássio), este grupo de fertilizantes dificilmente perde nitrogênio por volatilização da amônia, nem acidifica o solo, pois já é o produto final da transformação do nitrogênio (ureia → amônio → nitrato). Contudo, as fontes com nitrato podem perder nitrogênio através da desnitrificação, que ocorre em condições de falta de oxigênio no solo, como exemplo em áreas do terreno onde ocorram saturações hídricas temporárias, seja por efeito de chuvas ou irrigação, e sendo ainda que a maior fonte de perdas de nitrato é mesmo o processo de lixiviação. Entretanto, para gramados, esse é a melhor fonte de fertilizante que pode ser utilizado na adubação nitrogenada.

Ainda, uma outra fonte que se pode citar, seria a nítrica-amoniacal, que ao mesmo tempo disponibiliza nitrato e amônio, e apresentando as mesmas características mescladas que uma fonte somente amoniacal ou somente nítrica. Como exemplos de fertilizantes nesse grupo, temos o nitrato de amônio ou o nitrocálcio.

Além da fonte de N adequada, é importante, o correto manejo da adubação nitrogenada durante o ano, principalmente durante o inverno, onde devido as baixas temperaturas e falta de chuvas, não é aconselhável a realização da adubação, ou pode até ser realizada, contudo com baixas doses para que o gramado possa se desenvolver adequadamente. Quando se realiza a aplicação de quantidades elevadas de N nesse período, ocorre desperdício do fertilizante e o gramado se torna propicio para o aparecimento de doenças como a Rizoctonia. Já no verão, onde tem-se maior disponibilidade hídrica e temperaturas elevadas, o uso de N é recomendando em quantidades maiores, para que a grama possa crescer e manter suas características essenciais. No geral, durante o período de um ano, é recomendado o parcelamento do nitrogênio por ciclo de estação, sendo no geral: 35% verão, 25% primavera, 25% outono e 15% inverno, sempre claro, acompanhado da recomendação e monitoramento do profissional responsável pelo manejo do gramado.

Dependendo da espécie de grama, essas apresentam diferentes exigências com respeito a adubação nitrogenada, podendo as principais espécies serem classificadas como:


Espécie de grama Exigência nutricional
Grama Esmeralda Média
Grama Bermudas Alta
Grama São Carlos Média
Grama Santo Agostinho Média
Grama Batatais Baixa

Para monitorar o estado nutricional das gramas, é essencial realizar a análise química foliar, para verificar se os teores estão adequados para cada espécie. Contudo, existem falta de informações para cada variedade, então muitas vezes os valores se tornam adaptados de trabalhos científicos já realizados com pesquisas para outras espécies de gramados em condições brasileiras.

Ainda, uma forma eficiente de estimar o estado nutricional do N das gramas, é através da determinação indireta de clorofila (intensidade de cor verde da folha-ICV). Esse tipo de método é usado no próprio campo e não é destrutivo, onde com um simples aparelho (clorofilometro), pode-se saber se existe deficiência nutricional dependendo do valor encontrado. Para tanto, existem recomendações de valores adequados com base na literatura de trabalhos científicos que podem dar esses indicativos.

Assim, o manejo adequado baseado na adubação nitrogenada é essencial para manter a qualidade estética da grama e para que esta possa propiciar um adequado desenvolvimento do gramado, onde a dose, a fonte a serem utilizadas e a época de aplicação devem ser adequadas para o correto suprimento da espécie.

Leia também: Objetivo dos gramados em projetos paisagísticos por Aline Chagas Fini

Eng.ª Agrônoma pela FCA/ UNESP BOTUCATU – SP; MBA Marketing pela Fundação Getúlio Vargas; Professora do Instituto Brasileiro de Paisagismo (IBRAP); Consultora em paisagismo.