Implantação de gramados ornamentais

07/05/2021
Autores: Patrick Luan Ferreira dos Santos* - Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia (Sistemas de produção) e Doutorando em Agronomia (Horticultura), UNESP, Botucatu-SP. / Regina Maria Monteiro de Castilho* - Professora Doutora -UNESP Campus de Ilha Solteira-SP. (Engenheira Agrônoma-Universidade de Taubaté-SP, mestre e doutora em Botânica-UNESP, Botucatu-SP).

Etapas importantes da implantação de gramados ornamentais - Do preparo do terreno à escolha da espécie.

Os gramados são utilizados no revestimento vegetal do solo para proteção contra erosão e na composição de áreas verdes em jardins residenciais e comerciais, áreas esportivas, parques, cemitérios, fazendas e margens de rodovias. Por ser de uso cada vez mais frequente, tornaram-se um importante segmento da agricultura e da indústria de insumos e máquinas para manutenção de gramados. Contudo, gramados ornamentais tem importância pouco reconhecida pelas entidades de pesquisa no país, o que leva à escassez de informações técnicas, levando a profissionais da área a generalização de soluções e recomendações sem base científica.

Assim, quando se fala em instalação de gramados ornamentais (parques, praças, jardins públicos e residenciais ou em áreas industriais, por exemplo), na maioria das vezes, eles são plantados em locais onde foi realizado serviço de terraplanagem (aterro ou corte) sem um preparo adequado ao solo. No caso do corte, é removida a camada superficial do solo que geralmente é a mais fértil. Logo, os gramados são instalados em solo inadequados, o que pode trazer prejuízos ao desenvolvimento da espécie, causando danos visuais, crescimento insuficiente e irregular e prejuízos ao gramado.

Descompactação do solo

Dessa forma, a “base” de preparo de um gramado, com o qual a grama irá se desenvolver, é o principal fator que limitará o pegamento da grama. Em jardins, tanto públicos quanto residenciais, a instalação do gramado é a última etapa em uma construção, e acaba sendo prejudicada pela excessiva compactação do solo (que ocorre durante a obra de construção civil). Junto a isso, ao final da construção, o solo se encontra com várias lascas de madeira, pedras, restos de cimento, parafusos, pregos, etc., que se não forem retirados, prejudicam o desenvolvimento da grama. Com isso, inicialmente deve-se realizar um serviço de “formiga” para retirada de todas essas “impurezas” na área.

Como segunda etapa, é essencial a descompactação do solo, ou revolvimento, para “afofar” a terra. Isso se deve, pois, a compactação do solo traz danos ao desenvolvimento do sistema radicular, comprometendo a absorção de nutrientes e o completo “fechamento” do gramado no local instalado. A restrição no nível de oxigênio ocasionada pela alteração nos espaços porosos do solo pode tornar limitante o crescimento de raízes e seu funcionamento, reduzindo a absorção de água e nutrientes devido ao desenvolvimento de raízes rasas (superficiais) e grossas, menor formação de perfilhos, rizomas, estolões e redução no desenvolvimento da parte aérea, ocorrendo perda da cor verde da grama (sofre um amarelecimento geral) em função da indisponibilidade de nitrogênio na forma adequada, entre outros elementos. Esse declínio no desenvolvimento das folhas favorece o aumento da absorção de radiação solar pelo solo e elevação de sua temperatura, além de permitir a invasão de plantas daninhas, contribuindo, portanto para a deterioração do gramado. Assim, é necessário o processo de descompactação, para evitar todos os problemas acima citado.

Irrigação automatizada

Após a descompactação, tendo-se optado por irrigação automatizada, esse é o momento de realizar a instalação do sistema, sendo o projeto dimensionado por profissional qualificado e com materiais de qualidade, juntamente com um sensor de chuva. A irrigação deve ser setorizada de acordo com o recomendado para cada área do jardim, e o tipo de aspersor utilizado [pop-up (móvel, estático), fixo (spray), gotejo sub-superficial ou de impacto] será adequado com a necessidade do local. A recomendação é que a tubulação seja enterrada, mas isso não é um item obrigatório, dependendo do desenho do projetista, contudo, deve-se ter um croqui de cada setor e localização dos tubos.

A terceira etapa, é a realização da calagem na área, sendo que antes de iniciar toda instalação do jardim, deve-se realizar a aplicação de calcário no solo, sendo recomendado o dolomítico para disponibilização de cálcio e magnésio ao mesmo tempo. A adubação de implantação também pode ser realizada nessa etapa, sendo essencial o uso de uma fonte NPK, rica em fósforo para estimular o desenvolvimento do sistema radicular e facilitar o pegamento da grama. Entretanto, o acompanhamento de um profissional qualificado para o jardim é o mais recomendado, pois ele quem irá ditar o correto manejo da grama.

A aplicação da base de “topsoil” (mistura de areia e matéria orgânica) é a etapa seguinte. A correta mistura desses componentes contribui para boa drenagem, pois este irá reter umidade e nutrientes necessários ao crescimento e fortalecimento da grama. Em campos esportivos, recomenda-se algo em torno de 80 a 90% de areia média e 10 a 20% de composto orgânico; contudo em gramados ornamentais, a mistura acaba sendo diferenciada. Com base em estudos e pesquisas cientificas, uma base mais rica em matéria orgânica é o mais recomendado, como a mistura de composto orgânico + areia em proporções de 2:1 ou 3:1. A mistura desses componentes, se deve, pois, a areia apresenta alta capacidade de drenagem, e o composto orgânico tem o papel de melhorar os atributos físicos (porosidade e densidade) e químicas, visto que proporciona aumento do pH, aumento da CTC e consequentemente maior retenção e disponibilidade de nutrientes, favorecendo assim o desenvolvimento do gramado.

Importante destacar que o composto orgânico não pode ser de origem bovina de confinamento extensivo/semi extensivo, pois este provem de grande quantidade de sementes de plantas daninhas. O uso de substratos orgânicos, ou terra vegetal, também são excelentes opções para se fazer essa mistura da preparação do “topsoil”.

Assim, após a aplicação do “topsoil”, o nivelamento é a etapa seguinte, devendo levar em consideração a drenagem superficial (respeitando a caída do projeto) para não haver formação de poças no jardim, durante uma irrigação ou chuvas. E ao final a última etapa é o plantio dos tapetes.

Plantio de Grama

Para o plantio, o tapete (ou placa) de grama deve ser de qualidade, livre de plantas daninhas, resistente ao rompimento quando manejado, e comprado de um produtor registrado no RENASEM junto ao Ministério da Agricultura. Após a compra, é essencial que o tapete seja plantando o mais rápido, para que o pegamento seja o mais eficiente possível, devendo ser mantidos em local sombreado até o momento do plantio. Quanto maior o tempo de demora no plantio, menor será a viabilidade de pegamento do gramado. A grama deve ser do mesmo lote e produtor, para que a espessura do tapete cortado não seja diferenciada e prejudique no momento da implantação. O plantio pode ser feito em fileiras intercalas, e locais que necessitam “modelagem ou corte” dos tapetes, como as bordas, cantos e curvas devem ser deixadas como última etapa. Após todo o plantio, pode ser passado um leve rolo compactador para evitar bolhas de ar que permanecem entre o tapete e o solo e para que os pontos de ligação entre os tapetes fiquem mais firmes. E a irrigação deve ser realizada logo após o plantio, para maximizar e facilitar a penetração de raízes no solo.

Um ponto a se destacar é a escolha correta da espécie de grama para implantação no jardim. Recomenda-se em locais onde não se tem manutenção constante (como praças) o uso da grama batatais (Paspalum notatum), que é uma espécie nativa e bem rústica, mas sendo produto de extrativismo, gera um gramado difícil de nivelar, e com pouquíssimos produtores registrados no RENASEM para aquisição. Já em jardins residenciais ou públicos, onde se tenha um manejo adequado, de irrigação e adubação, a grama esmeralda (Zoysia japonica) se adapta muito bem, devido a sua maior resistência ao pisoteio (devido a seu crescimento ser rizomatoso-estolonífero), grande disponibilidade da espécie no mercado, e média exigência nutricional. Ainda podem ser utilizados outros gramados, também indicados para o paisagismo, como a grama coreana (Zoysia tenuifolia) e as espécies lançadas no país recentemente, como a Zeon (Zoysia matrella), GeoZoysia (Zoysia japonica x Zoysia tenuifolia x Zoysia pacifica) e a Discovery (Cynodon dactylon).

Para regiões litorâneas a Santo Agostinho (Stenotaphrum secundatum) é a mais indicada, devido a sua tolerância a salinidade e para áreas de meia sombra a São Carlos (Axonopus spp.) se adapta muito bem, sendo essa espécie nativa, tendo maior tolerância a temperaturas amenas e indicada para regiões mais frias do país. Áreas totalmente sombreadas, não devem receber nenhum tipo de grama, uma vez que nenhuma espécie de gramado consegue se desenvolver nesses locais, sendo recomendado, nesses casos, o uso de espécies especificas (forrações) de sombra.

Leia também: Objetivo dos gramados em projetos paisagísticos por Aline Chagas Fini

Eng.ª Agrônoma pela FCA/ UNESP BOTUCATU – SP; MBA Marketing pela Fundação Getúlio Vargas; Professora do Instituto Brasileiro de Paisagismo (IBRAP); Consultora em paisagismo.